13 de jun. de 2010

Sim,

Sim, quando a juventude de minha fantasia ainda povoava o mundo com seres iguais a mim, e eu tinha uma certa propensão à sociabilidade, e quando, após a ausência de vários anos, retornei a Dresden e Berlim, depois de minha segunda viagem à Itália, todo mundo me achou maravilhosamente mudado, tão grande tinha sido antes a minha melancolia, quando ainda o impulso natural à sociabilidade, a vontade de me comunicar e a necessidade de adquirir experiência equilibravam-se com a aversão ao ser humano. A chegada da idade adulta, entretanto, acentuou a força repulsiva e enfraqueceu a outra. A partir daí adquiri gradualmente um “olhar solitário”, tornei-me sistematicamente insocial e decidi dedicar o resto da minha vida efêmera totalmente a mim mesmo e, assim, perder o menor tempo possível com aquelas criaturas, a quem o fato de andarem sobre duas pernas conferiu o direito de nos tomarem por seus iguais, ou também, caso notem que não o somos, como ocorre com maioria, ignorarem astutamente isso e nos tratarem como pessoas iguais a elas, ao passo que nós, já aflitos por não o sermos, ainda temos que sentir a dor da injúria.




Schopenhauer